O Conto do Êxodo e da Volta de Mariel
No “Êxodo de Mariel”,muitos cubanos morreram
pelo caminho,perderam familiares, mas muitos realizaram o sonho e construíram
verdadeiras fortunas na Flórida, quando encontraram um ambiente fértil que
premiaria seu esforço, seu trabalho e seu empreendedorismo.
Ler sobre este fato histórico nos leva a 2010, 30
anos após o êxodo. Lembrei de umavisita com um primo feitana interessante cidade
de Berlim. Após três dias em uma feira de fruticultura, tivemos o dia livre e fomos
ao “Checkpoint Charlie”, onde existia um dos controles da passagem da Europa
Oriental, então socialista, para a Ocidental, de mercado. Lá existe um museu
que relata a história do Muro de Berlim edas tentativas de fuga das pessoas que
também perderam suas liberdades, suas vidas e famílias com o mesmo propósito
dos cubanos de Mariel. Terminamos a emocionante visita, sentamos na calçada
para observar, assimilar e refletir. Chegamos a uma conclusão: “se fosse bom,
para que precisava de muro?“
Nosso conto vai agora a janeiro de
2014, quando são amplamente divulgados dois fatos, os números da economia
brasileira em 2013 e a volta do assunto Mariel, graças a um investimento
bilionário da sociedade brasileira feito neste histórico Porto de Cuba.
O primeiro fato, números da nossa economia, mostra que silenciosamente as cadeias
produtivas do agronegócio brasileiro seguiram 2013 no seu caminho de produzir e
gerar renda, empregar para distribuir renda e contribuir com a economia
brasileira. O valor bruto da produção do agro brasileiro chegou a R$ 470
bilhões, 11,3% maior que em 2012. Deste total, cerca de 66,5% referem-se a
agricultura o os 33,5% à pecuária. Renda gerada que moveu inúmeros outros
setores econômicos do que chamo de... Brasil-Chinês, o Brasil do agro.
As exportações encostaram em US$ 100
bilhões, 4,3% acima de 2012. As importações também cresceram 4%, chegando a US$
17 bilhões, o que proporciona um incrível saldo de US$ 83 bilhões em 2013.Só em
soja foram US$ 31 bilhões, chegando a 31% do total brasileiro. Sojicultores
tiveram a façanha de exportar 10 milhões de toneladas a mais em 2013.
Entre os
compradores, foi a China, e não Cuba, que desbancou a União Europeia e passa a
ser o maior consumidor da nossa comida. Chega já a quase 23% das nossas
exportações do agro, e só tende a crescer. Vale dizer que a China comprou do
Brasil US$ 23 bilhões só em comida, ao passo que Cuba comprou ao redor de US$
500 milhões entre todos os produtos exportados pelo Brasil, parte deles para as
obras do Porto, e boa parte financiada pela sociedade brasileira.
Se olharmos o Brasil como uma grande
empresa que compete no mundo, nossa sociedade não vai bem. Estamos caindo
diversas posições nos principais rankings mundiais de competitividade. O rombo
das transações correntes (balança comercial, serviços e transferências) em 2013
atingiu US$ 81 bilhões, 50% a mais que em 2012, sendo o maior desde 2001. O
investimento estrangeiro direto no Brasil caiu para 2,88% do PIB. É a primeira
vez que este percentual cai desde 2009. Nosso superávit primário foi o menor
desde 2002 (1,9% do PIB).
Nossa
deteriorada balança comercial fechou o ano com saldo de pouco mais de US$ 2,5
bilhões, o pior resultado desde 2000. O Governo só não jogou o país para
déficit na balança devido à criativa operação de se exportar as plataformas de
petróleo que nunca deixaram o Brasil. Só isto gerou US$ 7,7 bilhões em
“exportações”.
Quem sabe
futuramente para acertar nossa balança, vamos exportar os Hotéis do lindo
litoral brasileiro para nos ajudar... A barraquinha de água de coco do Seu João
em Maceió poderia ser exportada e, mesmo continuando em Maceió, virar... “Johnny CoconutPlace - Cayman LLC”.
Os números de
2013 mostram que na conta Petróleo nosso déficit foi de US$ 22 bilhões, contra US$
5,6 bilhões de déficit em 2012. É fruto do apagão que contamina este Governo na
área de energias renováveis, onde se optou por destruir a indústria da cana,
tal como em Cuba, para favorecer as importações de gasolina, uma tragédia há
anos amplamente anunciada pelos ignorados cientistas brasileiros.
Soma-se a isto
a acelerada destruição da Petrobrás, cujas ações alcançaram o menor valor em Bolsa
desde 2008. Segundo a consultoria Economática, a empresa vale hoje 54% do seu
patrimônio liquido, o menor valor desde 1999, para tristeza de seu competente
corpo técnico.Em 2013 mais uma vez registrou queda na produção. Não entendo, se
a empresa tem um Conselho de Administração remunerado, como este não é
juridicamente responsabilizado por este fato.
Também
fomos contemplados nestes últimos anos com três presentes muito indesejáveis e
indigestos. O aumento na taxa de juros, a perda de valor da nossa moeda e
consequentemente do nosso patrimônio, e o mais terrível: a volta da inflação. Diferentemente
de quem esta no dia a dia brasileiro, quem morou um ano fora do Brasil pode dar
sua percepção que a inflação voltou, e voltou forte. Nada disso seria
necessário se tivéssemos um projeto de gestão e não de poder, e as consequentes
reformas estruturantes tivessem sido parte da agenda.
A sofrível gestão do pesado e complexo Estado e a
decorrente a explosão do gasto público deixou nosso Governo sem margem para
reduzir sua fúria arrecadatória (impostos). Se isto impacta no competitivo
agro, imaginem em outros setores, como na indústria e o turismo. De que
adiantou o agro exportar US$ 100 bilhões, se a indústria tomou um tombo de US$
100 bilhões?
Isto tem um
custo, e está ligado ao segundo tópico
deste mês de janeiro, o polêmico Porto de Mariel. Foi amplamente noticiado o
investimento da sociedade brasileira, de praticamente US$ 1 bilhão, via seu
banco de desenvolvimento, no Porto de Mariel, em Cuba, inclusive com supostas
acusações da falta de transparência deste investimento público.
Ao mesmo tempo
em que investimos em Cuba, foram estimadas em cerca de R$ 4 bilhões as perdas
dos exportadores em 2013 com as ineficiências na infraestrutura logística
brasileira. Estes bilhões sumiram dos bolsos dos produtores, exportadores,
donos de pizzaria e imobiliárias, entre outros. É uma perda não apenas do agro,
mas de toda a sociedade brasileira. Recursos que foram para o ralo.
Apesar do Banco
Mundial ter previsto ao Brasil uma das menores taxas de crescimento entre todos
os países analisados, as cadeias produtivas do agro brasileiro continuarão seu forte
trabalho em 2014. A CONAB diz que a safra brasileira de 2013/14 será de quase
197 milhões de toneladas. Será um crescimento de 5,2% em relação a safra que
terminou (187 milhões de toneladas). Se produzirmos as quase 91 milhões de
toneladas de soja esperadas, devemos passar os EUA para ser o maior produtor
mundial. A área total deve chegar a quase 56 milhões de hectares, 4% maior.
O investimento no Porto de Mariel, além do endosso
a um governo ditatorial que afronta os direitos humanos, foi um verdadeiro e
humilhante tapa na cara do produtor brasileiro, que deve, em 2014, perder
outros R$ 4 a 5 bilhões devido à deficiente infraestrutura do Brasil.Nada contra
o lindo país e o povo cubano, mas o ”retorno a Mariel” é apenas mais um caso de
uma absoluta falta de foco e de entendimento deste Governo do que é realmente
prioridade para a sociedade que tenta produzir no Brasil e não em Cuba.
Termino o conto do “Êxodo e da Volta de Mariel”,
pedindo ao Governo que, por favor, faça uma reflexão e em seguida, um “êxodo”
desta agenda dos últimos anos que deteriorou os resultados econômicos e a nossa
capacidade competitiva. Caso não exista interesse do Governo em trocar a
agenda, meu pedido passariaentão, à sociedade brasileira, para que possamos
fazer em 2014, sem inspiração cubana, mas simdemocraticamente, um “êxodo”...
deste Governo.
Em 2013 foi
Professor Visitante Internacional da Purdue
University (EUA)
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