A MANIA DE SE CONTENTAR COM POUCO... E ATÉ COM O PIOR!!


Por Alexandre Figueiredo

O grande cacoete de muitos brasileiros é se contentar com pouco. A ideia de qualidade de vida é distorcida para questões meramente materiais. Nada de uma verdadeira qualidade de vida, que ultrapasse falsas conquistas, meramente paliativas, mas de benefícios superficiais ou mesmo duvidosos.

Todo mundo quer ter um apartamento de luxo, um carro do ano, um celular de última geração, uma TV de plasma. Mas, para isso, vários brasileiros preferem apoiar medidas nem sempre realmente benéficas, mas que trazem apenas alguns poucos "benefícios" paliativos, mas nem sempre tão benéficos quanto parecem.

Desde 1964, nunca se viu pessoas tão condescendentes com o status quo político, econômico, midiático e tecnocrático. De repente, muitos deixaram de verificar se decisões vindas de "cima", apoiando-as incondicionalmente, mesmo que elas imponham sacrifícios e desvantagens profundas.

E aí, vemos que nossa melhoria de vida nada serve, porque muitos brasileiros entregaram seus destinos futuros não a Deus, mas a uma minoria de "pobres mortais" dotados de algum privilégio de poder que não os faz representantes legítimos dos cidadãos, mas pretensos arautos de uma "vontade popular" que eles dificilmente conseguem entender, presos aos seus privilégios e vantagens pessoais.

Ver que figuras como Luciano Huck, Pedro Alexandre Sanches, Jaime Lerner, Roberto Medina, Hermano Vianna, Ricardo Teixeira, Carlos Arthur Nuzman, Xuxa Meneghel, Michael Sullivan, Paulo César Araújo, William Bonner, Galvão Bueno e Fernando Henrique Cardoso se julgam donos de nossos desejos, de nossos anseios, necessidades e méritos, é assustador.

Privatizamos nossos desejos e necessidades. Deixamos de lutar pelo que realmente é melhor. Aceitamos até brinquedos quebrados de alguém vestido de Papai Noel. "Melhoria" de vida é botar os funqueiros para circular de chinelos no Barra Shopping, é dar um apartamento em Ipanema para um antigo ídolo brega.

Nossa mídia é velha. Nossa mobilidade urbana é autoritária. Nossa cultura dominante é cafona. Nossa cultura alternativa é frouxa. E nossos desejos acabam se limitando a apenas luxo, dinheiro, tecnologia. Só isso. Não mais são questionados, em larga escala, equívocos de posturas e procedimentos, e ainda há gente, na Internet, que ainda se irrita quando surge algum questionamento.

O Brasil tenta se passar por um "paraíso de mentira", camuflando nossos atrasos e nossas debilidades. Tudo é feito para manter as aparências de "potência", e nosso "progresso" terá que ser feito sob o silêncio e a aceitação de quantos absurdos forem necessários para viabilizar algum crescimento financeiro, tecnológico e administrativo.

Aceitamos uma pseudo-MPB de ídolos bregas dos anos 90 convertidos em "artistas arrumadinhos", gravando covers de MPB com roupas de gala e muita luz e pompa porque eles "também são populares" e são capazes de lotar plateias com uma mera passagem de som. Ouvimos música ruim "melhor trabalhada".

Aceitamos padronização visual em ônibus de uma cidade e nosso risco de pegar ônibus errados e não saber mais a corrupção que ocorre numa empresa de ônibus ruim - já que ela exibe as mesmas cores de outra empresa melhor - é ainda premiado por BRTs ou ônibus de pisos baixos. Pegamos ônibus errado com "categoria".

Aceitamos "musas populares" que só mostram o corpo e, quando falam alguma coisa, só dizem bobagens, e que ainda se acham "convencidas" e "engajadas com seu trabalho". E ainda pensamos que elas são "feministas" porque tentam desvincular suas imagens de algum homem. Aceitamos essas verdadeiras escravas do machismo como ícones de um "feminismo de borracharia".

Aceitamos "rádios rock" que são meros vitrolões sem alma, tocando apenas os "grandes sucessos", só porque eles se apoiam numa "mística roqueira". E muitos acham isso genial. Só que acabamos ouvindo rádios pop fantasiadas de pretenso radicalismo pseudo-roqueiro.

Votamos em políticos que embelezam praças, mas que depois são capazes de mandar demolir patrimônios históricos para expandir estádios de futebol ou para colocar "corredores expressos" de BRTs. Aceitamos privatização de estatais com dinheiro sujo que prometem modernizar um serviço que acabou se mostrando altamente deficitário. E ainda achamos que isso faz parte.

Aceitamos demissões em massa em nome da "modernização" de uma empresa. Aceitamos a dupla transmissão de rádios AM e FM numa mesma cidade acreditando na lorota de que isso "melhora a cobertura" de uma emissora. Aceitamos reality shows da TV aberta achando que trará maior interatividade com figuras anônimas convertidas facilmente à fama, mas desprovidas de qualquer inteligência.

Aceitamos nosso sub-intelectualismo recortando frases soltas de grandes escritores, músicos e ativistas sociais, para enfeitar as redes sociais com frases bonitas, sem saber se tais frases vêm de uma obra literária ou canção ou se foram ditas em alguma entrevista da qual não sabemos quando ocorreu ou foi publicada.

Aceitamos a péssima situação de nossa Educação, porque tolamente pensamos que Educação é um processo fácil e automático, basta ensinar a ler e escrever e ter alguns aspectos materiais como sala de aula, lápis e caderno. E há quem diga que a péssima posição do Brasil no ranking educativo mundial é inveja dos "tigres" asiáticos.

Aceitamos até mesmo que feminicidas bonitões, homens bem sucedidos profissionalmente que assassinaram suas noivas no passado, venham conquistar, já coroas, jovens moças bonitas que não sabem o perigo que correm. Eles são péssimos para aceitar um fim de relação, mas ainda são ótimos galanteadores. Mas diz o ditado: "não interessa quem bem começa...".

Para esse tipo de brasileiro, não interessa a reforma agrária, nem a regulação midiática, nem o fim do analfabetismo. Mas é necessário ter mais pieguice e bancar o "coitadinho" em qualquer situação. A qualidade de vida, reduzida a uma questão de dinheiro, luxo e tecnologia, faz as pessoas se acomodarem numa prosperidade que só existe na aparência.

E dessa maneira muita gente ainda acredita que o Brasil irá virar, "com certeza", a potência mundial em todos os sentidos. Grande ilusão. O Brasil se contenta com pouco e até com o pior, e isso faz com que nossa "síndrome de vira-lata" seja ainda pior nos últimos 22 anos do que em décadas atrás.

Isso porque, antigamente, a "síndrome de vira-lata" era apenas um defeito acidental de nosso país. Hoje ela é, para muitos, uma qualidade propositalmente defendida como uma causa nobre.

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