Se quer caixa de verdade, Temer deve privatizar Eletrobras e Petrobras
Claudio Fritschak, um dos maiores especialistas em infraestrutura do país, diz que é hora de discutir o assunto
Por Márcio Juliboni
Esqueça as rodovias e os
aeroportos. Se o governo quiser dinheiro grosso para resolver seu
problema de caixa, é hora de privatizar os elefantes brancos que
atazanam as contas públicas e a vida dos brasileiros: Eletrobras e
Correios. Além disso, por que não discutir a venda da própria Petrobras?
A avaliação é de Claudio Fritschak, um dos maiores especialistas em
infraestrutura do país.
Numa conta rápida, somente o
pré-sal poderia render uns US$ 20 bilhões para o governo. Só a
Eletrobras aportaria mais US$ 15 bilhões – com o benefício extra de se
livrar de um cabide de empregos loteado por políticos de todas as
colorações partidárias. Economista e fundador da consultoria Inter.B,
Fritschak afirma que não faltam interessados no Brasil. O que
falta mesmo é pôr a mão na massa.
Veja os principais trechos da entrevista a O Financista:
O Financista: O
governo tem pressa com as concessões porque precisa de dinheiro. Quais
são as áreas mais fáceis e rentáveis para licitar?
Claudio Fritschak:
Se quiser começar pelo mais fácil, primeiro são os aeroportos. Uma
coisa boa é que o governo já tirou a Infraero do processo. Um aeroporto é
composto por três negócios: uma operação logística, um grande shopping
center e as operações imobiliárias do entorno, como hotéis e
estacionamentos. Então, é muito atraente, porque gera muito dinheiro
para os investidores.
O Financista: E as rodovias?
Fritschak:
Há várias categorias de rodovias. A primeira são as que podem estender o
contrato de concessão por meio de aditivos, em troca de investimentos.
Mas é preciso ter regras claras para isso. Não pode fazer, por exemplo, o
que se fez na ponte Rio-Niterói. Outro grupo são as rodovias que
precisam de investimentos muito pesados, como a chamada “Rodovia do
Frango”. Neste caso, o governo deve esquecer essa ideia de determinar
uma taxa máxima de retorno.
O Financista: Quanto esses ativos podem render para o caixa do governo?
Fritschak:
Se o governo quer caixa mesmo, é preciso privatizar. Não só concessões,
mas venda de ativos mesmo. Temos o pré-sal. Monetizar parte dele faz
todo o sentido. Precisamos ir além do Campo de Libra. Com o petróleo na
faixa de US$ 50 por barril, e fazendo um bom projeto, em uma estimativa
bem preliminar, o governo pode conseguir entre US$ 20 bilhões e US$ 30
bilhões. Outra é a Eletrobras. Não tem sentido manter uma estrutura como
aquela. É claro que depende da modelagem, mas pode render uns US$ 15
bilhões. Os Correios são outro. É incompreensível esse monopólio, que só
serve para interesses políticos. E a Petrobras. Por que não discutir
isso? Enfim, dá para dizer que existem ativos da ordem de dezenas de
bilhões de dólares que podem ser vendidos.
O Financista: Como tornar tudo isso, efetivamente, interessante para os investidores?
Fritschak:
Há alguns pressupostos. Primeiro, a confirmação do impeachment de Dilma.
Segundo, que Temer vá, mesmo, até 2018. Terceiro, a sensação de uma
certa normalidade econômica. Com isso, os ativos brasileiros começarão a
se valorizar. Mas um processo de privatização bem feito pode gerar boas
receitas. Não faltam recursos lá fora. Mas é preciso desaparelhar as
agências reguladoras e respeitá-las. Definir um plano estratégico de
infraestrutura, e não apenas leiloar projetos isolados, que não fazem
sentido para o investidor. Oferecer os projetos básicos e deixar que as
empresas compitam pelo melhor projeto executivo. E criar uma agenda de
PPPs, que são fundamentais para áreas como saneamento e mobilidade
urbana. Para essas PPPs, é preciso um fundo garantidor, cujos recursos
poderiam vir das privatizações.
O Financista: Mas há, mesmo, interesse dos estrangeiros pelo Brasil?
Fritschak:
Muito. Não são apenas as empresas de private equity. Há também os
fundos de pensão estrangeiros e as seguradoras. Os dois têm o mesmo
problema: o equilíbrio atuarial. Por isso, precisam de investimentos de
longo prazo. Há os fundos soberanos; alguns são muito grandes. E temos a
China. Eles já estão aí no setor elétrico, por exemplo. E os chineses
têm uma mentalidade de melhorar as operações. Não é apenas comprar, mas
desenvolver. Isso não seria bom para todo mundo? Os consumidores teriam
um serviço melhor. O país teria uma infraestrutura melhor.
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